Lupi sobre fraudes no INSS: “Minha falha maior foi não ter dado dimensão ao rombo”

O ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, prestou depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) nesta segunda-feira (9), e negou qualquer envolvimento com irregularidades ocorridas durante sua gestão à frente da pasta. Lupi também afirmou que não foi omisso diante das denúncias de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha conhecimento dos fatos.

Durante o depoimento, o ex-ministro negou conhecer pessoas diretamente envolvidas no esquema investigado pela Polícia Federal, como o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”. Reconheceu, no entanto, ter feito nomeações para cargos-chave, como a de Adroaldo da Cunha Portal, ex-secretário do Regime Geral de Previdência. Ainda assim, argumentou que a responsabilidade pelos desvios cabia ao próprio INSS, por ser uma autarquia com autonomia em várias decisões.

Errar é humano; eu posso ter errado várias vezes. Má-fé eu nunca tive. Acobertar desvios, nunca fiz na minha vida”, declarou Lupi em sua fala inicial.

Investigação e saída do ministério

Carlos Lupi comandou o Ministério da Previdência de janeiro de 2023 a maio de 2025, e pediu demissão cerca de uma semana após a deflagração da operação da Polícia Federal que apura fraudes com descontos indevidos em aposentadorias e pensões.

Questionado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), sobre o momento em que teve ciência do esquema, o ex-ministro disse que só entendeu a real dimensão das fraudes após o aprofundamento das investigações:

A gente, infelizmente, não tem o poder da adivinhação. Nunca tivemos capacidade de dimensionar o tamanho ou o volume do que esses criminosos fizeram no INSS. Foi só depois da investigação para valer, da PF.”

Ele acrescentou que denúncias semelhantes já haviam sido arquivadas em anos anteriores, como em 2016 e 2020, por falta de provas. Ao ser indagado se havia informado o presidente Lula sobre indícios de irregularidades, Lupi respondeu:

Em nenhum momento. Eu não tinha informação suficiente para comunicar.”

Demora em agir e medidas adotadas

O relator da comissão também questionou a demora do ministério em tomar providências, mesmo diante de alertas sobre possíveis irregularidades. Lupi respondeu que ações foram adotadas a partir de maio de 2023, após reunião entre o INSS e a Polícia Federal. Segundo ele, as informações que motivaram a operação da PF foram encaminhadas à corporação pela Ouvidoria do ministério.

Essa ação foi de fora para dentro. Não era uma ação feita com dinheiro público dentro da Previdência Social. Era um esquema criminoso externo, com a conivência de alguns que, espero eu, sejam exemplarmente punidos”, afirmou.

Associações e denúncias internas

O ex-ministro também relatou ter recebido representantes de diversas associações de aposentados e pensionistas logo após assumir o cargo. Disse que todas as demandas foram encaminhadas ao INSS para análise.

Logo que assumi, me pediram uma audiência, e cada associação me entregou uma série de solicitações. Encaminhei todas para a presidência do INSS”, explicou.

Questionado sobre alertas feitos durante uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), em junho de 2023, Lupi confirmou que o tema foi levantado pela conselheira Tonia Galletti, mas negou omissão. Afirmou que medidas foram tomadas mesmo não sendo pauta oficial da reunião e que, em abril de 2024, a própria conselheira reconheceu que auditorias do ministério não encontraram irregularidades nas fichas da entidade que ela representa, o Sindnapi.

Ela agradece o apoio do ministério às associações e relata que a auditoria feita no Sindnapi não encontrou indício de fraude algum”, completou.

Motivação da saída e investigação

Ao explicar sua saída do ministério, Lupi disse que não houve motivação ética ou legal, mas sim uma pressão política crescente que tornou sua permanência insustentável.

Ficou insustentável pela campanha política que se fez contra mim”, afirmou.

Ele finalizou o depoimento destacando que não é investigado nem citado em qualquer inquérito relacionado ao esquema de fraudes:

Quero explicar aos senhores parlamentares que eu não sou denunciado, eu não sou citado. Foram feitas dezenas de investigações e depoimentos, e meu nome sequer apareceu.”

Fonte: Agência Senado

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