Na decisão, Moraes diz que ‘Diário da Cadeia’, publicado sob pseudônimo do ex-deputado, induz leitor ao erro; autor recorrerá e acusa censura no Brasil
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moares, ordenou o recolhimento do livro “Diário da Cadeia”, assinado pelo escrito Ricardo Lísias com o pseudônimo Eduardo Cunha. A decisão monocrática foi publicada pela corte na manhã desta quinta-feira (16).
Moraes também determinou que a editora retire a assinatura “Eduardo Cunha (pseudônimo)” do título, bem como menções em seu site que liguem o nome do ex-deputado ao livro. Além disso, a casa deve conferir direito de resposta a Cunha em sua página na internet.
Na atual decisão, Moraes acolhe os argumentos da defesa de Cunha e argumenta que “Diário da Cadeia” induz o público ao erro, ao criar a impressão de que o ex-parlamentar seria o verdadeiro autor da obra, e que não é legítimo o uso irrestrito da liberdade de expressão.
“O fato de o autor ser pessoa pública e possuir o ônus de ser alvo notícias da imprensa e opiniões alheias não autoriza o exercício abusivo do referido direito à liberdade de expressão”, escreve o magistrado.
Entre os condenados na ação está o jornalista Carlos Andreazza, hoje colunista do jornal O Estado de S. Paulo e da Bandnews FM, que foi o editor do livro na Record à época da publicação. Em sua atuação na imprensa, Andreazza tem sido um crítico recorrente da atuação de Moraes.
“Não me surpreende. Mas, pela minha atividade jornalística e por ser crítico da forma, inclusive com censuras, como Alexandre de Moraes tem trabalhado, não vou comentar”, diz Andreazza.
Lísias é um escritor conhecido por obras que flertam com a performance no espaço público e muitas vezes dialogam com a política nacional. Essa abordagem, contudo, serve para explorar questões de ordem literária, ao borrar a fronteira entre realidade e ficção.
Esse tipo de exploração formal já gerou ruídos com a Justiça outras vezes. Em 2014, ele foi acusado de falsificação de documentos após publicar o folhetim “Delegado Tobias” (e-galáxia). O caso levou Lísias a escrever “Inquérito Policial: Família Tobias” (Lote 42), publicado em formato de fichário e imitando documentos de uma investigação.
“O ministro confundiu liberdade de expressão com liberdade de criação artística. A liberdade de criação não tem nenhum tipo de amarra. No interior de uma obra, o artista pode fazer o que bem quiser. O jeito como o livro foi assinado faz parte do trabalho artístico”, diz Lísias, que pretende recorrer.
“Posso perder na Justiça, mas não posso aceitar a censura. Vou fazer alguma coisa, artisticamente, no sentido de mostrar como essa decisão é uma censura.
Com informações da Folha de SP.