A taxação dos importados contradiz o lema do governo Lula

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Uma cesta de produtos compostos por acessórios para celular, moda, itens para casa e jardim e brinquedos tem, e muito, na Shopee, no Aliexpress e na Shein. Costumam ser produtos de boa qualidade – ao contrário do que eram os produtos chineses anteriormente – e com ótimos preços se comparados aos das lojas e mesmo com os praticados nos shoppings populares no Brasil.

Quem mora nas cidades grandes, médias ou pequenas pode observar o fluxo de carros dos correios que antes entregavam boletos e cartas, agora entregando embalagens em pacotes brancos com encomendas da China. O cidadão vê oportunidades de acesso a bens de consumo e o governo vê oportunidades de aumento da receita, afinal a lei só isenta importações de até US 50 para transações entre pessoas físicas. Cada um no seu quadrado, cada um com seu ponto de vista.

Quando se misturam as visões e os objetivos dos cidadãos e do governo, estamos falando de política. Afinal, o governo deve ser responsivo às vontades dos cidadãos, pois essas demandas devem nortear os princípios na elaboração e implementação de políticas públicas, bem como na gestão do orçamento.

Nos primeiros 100 dias do governo, vários sinais foram emitidos de como serão os próximos 1.360 dias de gestão. Talvez a frase foi mais repetida neste período inicial foi: “vamos colocar o pobre no orçamento e rico no imposto de renda”. Foi tantas vezes repetido, que podemos considera-la um mote, um ideal do governo que se inicia.

Esse mote assusta muita gente, principalmente os mais ricos e o setor produtivo, que pagam impostos altos e demandam por retorno de políticas públicas principalmente na área de segurança e infraestrutura. De outro lado, agrada aos mais pobres, que estão carentes de políticas que atendam suas necessidades nas áreas social, de saúde e educação.

Ao ser questionado sobre medida que atingiria o comércio desses produtos que vêm de fora, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou: “Vocês falam da Shein como se eu conhecesse. Eu não conheço a Shein. O que eu sei é o seguinte: o único portal que eu conheço é o da Amazon, porque eu compro todo dia um livro, pelo menos”. A declaração, além de demostrar uma certa soberba, revela também a distância entre o que é a vida daqueles que têm mais dinheiro, se comparada com a grande maioria da população. As elites e, entre elas as elites políticas, compram seus “gadgets” (que os mais pobres conhecem como bugigangas) nas lojas oficiais das marcas ou de grifes famosas, inacessíveis aos mais pobres.

O novo arcabouço fiscal elaborado pelo governo, prevê o aumento das receitas e a expectativa é que a investida fosse na direção dos privilégios dos mais ricos e das isenções que beneficiam setores específicos da economia, que conquistaram incentivos inalcançáveis para a maioria dos CNPJs e CPFs deste país. Porém, a intenção de taxar também as compras inferiores a US$50 sinaliza o contrárioao tirar um dos pequenos espaços de consumo dos mais pobres, que encontram oportunidades de compra nos sites chineses para satisfazer desejos do dia a dia. Mesmo que os membros do governo não conheçam esses marketplaces chineses, a grande maioria, a massa de brasileiros mais pobres, principal responsável pela eleição do Presidente Lula, conhece bem e espera a sobra de algum recurso no final do mês para ter a oportunidade de esperar o pacote dos correios chegar com pequenos prazeres em tempos tão difíceis.

Fonte: Itatiaia

Júlio Gadelha http://ovies.com.br

Estudante de Jornalismo graduado em Marketing: Explorando o caminho brasileiro da Democracia e da Política.

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